30.10.13

toninha

Escreveu o Zé Luis: morreste-me.
E eu só te digo:
não me morras mais, não?
Que eu às vezes estou desesperado
e preciso de viver,
e não tenho encontrado por aqui muita compreensão.

O alcance do que vivemos não é perceptível. Era de esperar.

As voltas que a vida dá e as que nos damos

Pode alguma coisa ser mais surpreendente que a surpresa que nos infligimos a nós mesmos ao nos descobrirmos noutros lados da vida que não aqueles que nos são familiares e que escolhemos? Pode algo ser mais surpreendente que nos renovarmos com alguém que não nos estaria destinado mas que nos cai nos braços e acolhemos com uma vontade que não sabíamos ter, de fazer coisas que pensávamos não querer? Mas que afinal nos revelaram diferentes, mais complexos, mais imprevisíveis, nos tomaram de surpresa, nos ganharam, nos fizeram felizes mesmo que por momentos, nos mudaram. Já sabia que em nenhum momento da vida devemos dizer nunca. O que não sabia era que a minha própria vida o viria a comprovar. Reinvento-me e surpreendo-me, e só não é surpresa que o motor dessa surpresa sejam pessoas e afectos. Que bem sabe ser-se desejado sem ocultações nem subterfúgios, nem ciúmes nem formalidades, apenas com a crueza do desejo e a extrema simplicidade de um carinho que se exerce sem repressões ou medos, sem nada esperar em troca, sem expectativas unilaterais, apenas e só carinho. Apenas e só duas pessoas que se cruzam, se seduzem, se fazem felizes os corpos e depois repousam na clareza de um abraço sem muros de permeio. Há muito que não sabia amar simples. Há muito que amar não me era simples. Quase esqueci como gostar sem complicações, desgostos e contratempos. Há muito de mim que não sabia. Há muito de mim por fazer e descobrir. É bom redescobrir a simplicidade do que pode afinal ser simples, e voltar a conhecer o prazer e o afecto sem dor. Olho-me ao espelho e só me reconheço na aparência, porque sendo o mesmo, já sou - outra vez - novo.

Afinal é verdade

O que os olhos não querem ver, o coração também não sente.
Devia ter descoberto a visão selectiva há muito mais tempo.

29.10.13

Condições de um afecto

2 pessoas (mínimo)
2 pessoas (mínimo) e vontade mútua
2 pessoas (mínimo), vontade mútua, coisas em comum
2 pessoas (mínimo), vontade mútua, coisas em comum, bilateralidade

22.6.11

PENSO LOGO RESISTO

13.3.09

ISTO AQUI NÃO ANDA BEM

Yap, ando numa de puxar para cima no blogue algumas das letras de músicas que escrevi há séculos... para acabar por descobrir que alguma nunca sequer cheguei a publicar.

Esta é a minha favorita. Foi escrita das entranhas, estava uma pessoa que amo muito a ser hipermaltratada por esta vulnerabilidade que temos a maioria: o dependermos da necessidade de trabalhar para viver.

ISTO AQUI NÃO ANDA BEM

Sabes como é, é um dia atrás do outro
humilhados todo o tempo, feridos e discriminados,
sem motivo e sem perdão /nem sequer alguma
fraca justificação.
Não se explica tanto ódio, esta desconsideração/
nem esta exploração,
tanto louco assassino com o dedo no botão/
tanto bófia presumido com o dedo no bastão,
e a raiva acumulada, que perdemos sem direcção
tanta força desgastada, tanta falta de visão.

Não é só preconceito essa coisa do racismo
um sistema muito organizado de supremacismo
Não está só na mente, está na condição,
na miséria, na injustiça, nas vidas de submissão,
nas leis racistas, promotoras da exclusão,
e há gente neste mundo, está claro, bem cabrão,
percorrendo mares em 'pateras' e fronteiras 'carniceras',
a sua origem um pretexto para a visão persecutória,
será que não temos todos/ todas uma história?

Isto aqui não anda bem
para ninguém
a não ser para a pequena minoria que nos rouba o sustento e a dignidade de cada dia.

Sabes como é, uma mulher
não pode ser mulher senão de uma maneira,
qualquer outra é uma rameira...
como se os homens não o fossem
ahahahah
quando na rua
só vêem 'gajas boas' onde há pessoas.
Para eles há boas mulheres, estão guardadas em casa,
e qualquer outra que não a nossa é objectificada,
e um alvo do seu desejo e agressão,
alvo "legítimo" da sua imposição.
Cúmulo da mentira, em casa também se bate,
a fachada de felicidade esconde o mau trato,
para cadea massacrada que vai levando calada,
há um dedo macho, um cobarde que golpeia,
um tiranito de trazer por casa...
pequeno facho.

Não bastava o trabalho, correr por menor salário.
Engravidas, vais p'rá rua, que má sorte foi a tua
que estes cabrões
até crianças põem a trabalhar,
sempre que o lucro o justificar:
dezasseis horas por dia, sete dias por semana, um minuto p'ra mijar,
completa instabilidade, sempre a precarizar,
nos seus call-centers, pizza-enters, fuck-donald's,
nessa merda toda em que se trabalha sem direitos.
Quando a falta de amanhã se disfarça de um emprego, estamos feitos.

Isto aqui não anda bem
para ninguém.
Se continuarmos divididos, confundindo inimigos,
cairemos desunidos.

Sabes o que é a homofobia?
Ser insultado, apagado, agredido e limitado a cada dia,
cada minuto é uma fobia,
toda a cultura te recorda quem tu és,
para ficares no teu cantinho, discretinho,
ar contentinho...
ferves por dentro, auto-infliges torturas várias,
não te reestruturas sem as forças necessárias,
da tua mente à tua vida,
da tua mãe ao teu papá,
é da escola ao trabalho,
do pensar ao blá-blá-blá,
é da TV até à rua, até à tumba e desde já:
podes estar quietinho, mas não ser nem demonstrar,
Liberdade de Expressão, só a podes imaginar,
tens que reaprender a vida, porque a vida se ocultou,
não vais viver decansado, sem saber que isto mudou.

Cobardia aliás não falta,
é o luxo dos poderosos,
e à agressão de um sistema errado,
todos estamos expostos,
qualquer um e qualquer uma pode ser discriminado/a
porque basta ter nascido ou viver do lado errado.

Se já sabes como é, então ouve, não há tempo
para sabê-lo e seguir contente,
como se nada fosse,
e não valesse o acrescento,
há que juntar todas as forças para pensá-lo
e trazer nas nossas mãos a ideia de modificá-lo.

AUSÊNCIA

Não saias d’ao pé de mim
Por muito tempo qu’ eu não aguento
És a pele que me toca
És a minha cola,
O abraço terno que me enrola
Eu sem ti fico sem mola

Se a vida te chamar
E tiveres que bazar
No regresso traz-me um pouco
Para partilhar

És o beijo que me choca
És a minha cola,
O abraço terno que me enrola
Eu sem ti fico sem mola